Foi quando conheci a medicina chinesa (MTC) que comecei a compreender realmente o que significava a frase "tudo é relativo", entendendo as infinitas possibilidades e realidades da vida. A realidade não é estática, ela muda a cada segundo, somos seres de natureza cíclica, a vida é cíclica. Como na música de Lulu Santos: “nada do que foi será do jeito que já foi um dia, tudo passa tudo sempre passará, a vida vem em ondas como um mar, num indo e vindo infinito.”
Essa letra é puramente pensamento Taoísta, e, também, tem tudo a ver com ser mulher. É a dança harmônica e intrincada do yin e do yang que nos proporciona saúde e vida, não há equilíbrio estático entre yin-yang e sim dinâmico, uma troca em constante movimento.
Para os chineses, cada manifestação que existe na terra é uma expressão combinada dessas duas polaridades energéticas num ciclo contínuo de alternância e interdependência, possibilitando características distintas que dão colorido à vida. O Yang está dentro do Yin e o Yin dentro do Yang para que a transformação de um aconteça a partir da base do outro. E é isso que possibilita os ciclos da vida-morte-vida, pois a morte traz em si a continuidade, a semente da nova vida. Assim como na natureza acontecem seus ciclos, o ser humano também está sempre mudando e, quando conscientes do seu processo, podem potencializar suas próprias transformações.
Então, aqui a relatividade se apresenta no pensamento taoísta de que não existe nada entre o céu e a terra que seja absolutamente yin ou yang. Portanto, como podemos classificar alguma coisa como yin ou yang?
Primeiro essa coisa precisa estar inserida num contexto. Por exemplo, a água é considerada de natureza Yin (+ fria), comparada, por exemplo, com o fogo de natureza mais yang (quente). Mas, se compararmos a mesma água agora com o gelo, a água é mais yang que o gelo, que é mais sólido e mais frio ainda. Então, dentro dessa nova perspectiva a água não pode mais ser classificada como yin. Ela perdeu sua natureza Yin? Claro que não! Entendo, com isso, que nada É, tudo ESTÁ e, por isso, tudo pode vir a ser... Depende de que realidade estamos falando, pois existem várias, e essa é a beleza da vida, a abundância das diferentes possibilidades. Na prática, poderíamos dizer que temos a semente de tudo dentro de nós, podemos ser o que decidirmos ser, para isso precisamos mudar o contexto, seja ele interno ou externo.
Tudo isso também tem uma relação íntima com a saúde feminina. A mulher vive a realidade desse movimento cíclico (vida-morte-vida) mensalmente. Sua fisiologia energética, mais do que a masculina, é uma representação perfeita dessa alternância entre o Yin e o Yang. Seu útero todo mês se prepara para ser um lar para uma nova vida que terá sua semente plantada, ou não, em seu terreno fértil. Quando não há implantação embrionária a “morte” se faz, o sangue escorre levando e limpando tudo que foi do processo anterior para que no próximo ciclo uma nova possibilidade possa ser concebida. E o ciclo recomeça. Independente se a mulher menstrua ou não, sua fisiologia tem como base essa alternância e essa ciclicidade, que será manifestada de outras formas, que não necessariamente através do sangue menstrual ou gravidez.
Portanto, para a presença da saúde interna é preciso que esse movimento seja fluido e harmonioso, como uma dança dentro de nós. Se essas polaridades começam a desequilibrar no interior do nosso corpo os sintomas aparecem e as doenças surgem, esse movimento é interrompido.
A acupuntura e a medicina chinesa trabalham buscando e facilitando esse reequilíbrio do yin e do yang e liberando o fluxo de Qi (energia vital) no organismo para trazer movimento e assim potencializar as transformações necessárias para que a cura e a saúde se expressem livremente.
Texto: Alice Soares
Fisioterapeuta Acupunturista
Crefito - 242294
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